Medidas políticas e luta <br>para valorizar os salários

REIVINDICAÇÃO O relatório da OIT sobre salários veio confirmar o aprofundamento das desigualdades na repartição do rendimento, mas a CGTP-IN salientou que não basta constatar a situação, urge valorizar o trabalho.

Urge inverter a política de exploração e empobrecimento

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Portugal foi um dos países com maior diminuição da parte dos salários no rendimento nacional, segundo o Relatório Global da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Salários, apresentado em Lisboa a 30 de Março. Foram analisados 133 países, no período entre 1995 e 2014.
No mesmo dia, a CGTP-IN comentou aqueles dados como a confirmação do «aprofundamento, à escala global, das desigualdades na repartição do rendimento, com o capital a absorver uma parte crescente da riqueza produzida», sendo que, «em Portugal, a política de exploração e empobrecimento imposta, nomeadamente nos anos da troika, agravou os desequilíbrios existentes e acentuou de forma preocupante a pobreza laboral».
«Mais do que constatar, urge tomar medidas políticas adequadas para pôr termo a esta situação, que coloca Portugal como um dos países mais desiguais da União Europeia», observou a Intersindical, insistindo que o País «precisa de uma política que valorize os trabalhadores e o trabalho, com a reversão das medidas que facilitaram e embarateceram os despedimentos, generalizaram a precariedade, enfraqueceram a contratação colectiva e impuseram normas gravosas da legislação laboral que fragilizam os assalariados em benefício do patronato».

Grandes
nos lucros

Na Petrogal (Grupo Galp Energia), termina amanhã uma ronda de plenários de trabalhadores, convocados «para analisar a situação e decidir acções a desenvolver». Num comunicado, a apelar à participação nas reuniões nas refinarias de Sines e do Porto e na sede, em Lisboa, a Fiequimetal/CGTP-IN referiu que a administração «continua sem responder à actualização dos salários, recusou as propostas dos trabalhadores sobre o clausulado e mantém o objectivo de prosseguir com a destruição dos direitos laborais e sociais».
Antes, já a Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal tinha salientado que «falharam rotundamente» as previsões da administração, que serviram para fundamentar a denúncia do «acordo autónomo», em 2013, e desencadear uma ofensiva contra direitos sociais nele consagrados. Em vez de «fortemente negativos», os resultados de 2014 representaram um aumento anual superior a 20 por cento, atingindo um lucro de 373 milhões de euros. Nos dois anos seguintes, como se refere no comunicado da CCT, o grupo Galp Energia obteve mais de mil milhões de euros de lucro.

O Grupo Brisa mantém «o discurso da troika» mas «só para os trabalhadores», acusou o CESP/CGTP-IN, criticando a posição patronal nas negociações da revisão do acordo colectivo de trabalho. À reunião agendada para segunda-feira, dia 3, as empresas iam chegar com apenas 0,9 por cento para a actualização da tabela salarial. O sindicato persiste na negociação de valores que reflictam as reais capacidades das empresas e exige que sejam negociadas outras matérias do caderno reivindicativo entregue em Dezembro.
«Só com a união dos trabalhadores conseguiremos ultrapassar os habituais obstáculos» que, nesta negociação, «nos impedem de melhorar as nossas condições de trabalho e de vida», apelou o CESP, adiantando que iria «auscultar os trabalhadores sobre as formas de luta a adoptar».

Na DHL, o CESP está a dinamizar um abaixo-assinado em que os trabalhadores se comprometem a «desencadear processos de luta» para alcançar reivindicações que começam com um aumento salarial mínimo de 40 euros para todos e se estendem por um total de treze pontos.
O sindicato afirma que os trabalhadores da Logística da DHL (operadores de armazém) são «os que têm salários mais baixos» nas empresas deste sector, mas a multinacional está «inflexível no que respeita aos aumentos salariais e à progressão nas categorias profissionais». Com «resultados positivos de milhões», a DHL paga a estes trabalhadores salários de 557 euros, protesta o CESP.

 

Das empresas para as ruas

Para toda a corrente semana, foi anunciada uma série de concentrações dos trabalhadores da Schmitt+Sohn (elevadores), à porta da empresa, na Arroteia (S. Mamede de Infesta), para exigirem aumentos salariais dignos, revelou o SITE Norte.

O SITE Sul, também da Fiequimetal/CGTP-IN, informou que os trabalhadores da Limpersado em serviço na Navigator Company, na Mitrena, foram segunda-feira de manhã à sede da empresa, em Setúbal, para exigirem melhores condições de vida e de trabalho. A decisão foi tomada em plenário, porque «ficou claro que não existe por parte da empresa vontade de resolver os problemas dos trabalhadores». A Limpersado também não quer responder à exigência de aumento dos salários e de garantia de pagamento do salário no último dia útil do mês. Numa resolução, ficou declarada disponibilidade para outras formas de luta.

Em luta pela actualização dos salários, congelados desde 2010, e pelo cumprimento do Acordo de Empresa, os trabalhadores da Imprensa Nacional Casa da Moeda concentraram-se na terça-feira, de manhã, frente ao Ministério das Finanças. Navalha Garcia, dirigente do SITE Centro-Sul e Regiões Autónomas, disse à agência Lusa que foi dada a garantia de uma reunião com o novo secretário de Estado do Tesouro, na próxima semana. Os trabalhadores e o sindicato da Fiequimetal exigem que pare o ataque aos direitos e ao AE, tendo já a administração admitido pedir à tutela um regime de excepção para a empresa negociar a actualização salarial.

 



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